quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Apenas Palavras.

“Você SEMPRE soube usar palavras bonitas.” Ela disse. Mas estava tudo acabado. Eu via isso em seus olhos, em sua expressão enquanto lia a minha carta.
Eu sempre soube usar palavras bonitas. Para explicar algo que eu tivesse feito ou pedir desculpas por qualquer mancada.
Eu sempre soube usar palavras bonitas, ela disse. Mas agora era o fim. Ela estava cansada. Já tinha ido longe demais, aguentado demais por mim. Ela não estava mais interessada em desculpas, em explicações. E eu não a culpava. Além do mais, eu queria ir embora. Teria ido de qualquer jeito. Estava tudo acabado para mim, também.
A vi dobrar a carta em cima das marcas da última dobradura, e com gestos lentos colocá-la de volta no envelope. Havia um sorriso de quem finalmente concluí uma tarefa difícil em seus lábios, o que me fez sorrir também. Acho que estava tudo bem, afinal.
Ela veio até mim, me beijou a face – a esquerda, porque sabe que eu tenho mania de lado esquerdo – e se despediu. Suas últimas palavras, uma a uma, se enrodilharam à minha volta, prenderam-se às minhas pernas.
“Você sempre soube usar palavras bonitas.” Mas estava tudo acabado.

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