quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Apenas Palavras.

“Você SEMPRE soube usar palavras bonitas.” Ela disse. Mas estava tudo acabado. Eu via isso em seus olhos, em sua expressão enquanto lia a minha carta.
Eu sempre soube usar palavras bonitas. Para explicar algo que eu tivesse feito ou pedir desculpas por qualquer mancada.
Eu sempre soube usar palavras bonitas, ela disse. Mas agora era o fim. Ela estava cansada. Já tinha ido longe demais, aguentado demais por mim. Ela não estava mais interessada em desculpas, em explicações. E eu não a culpava. Além do mais, eu queria ir embora. Teria ido de qualquer jeito. Estava tudo acabado para mim, também.
A vi dobrar a carta em cima das marcas da última dobradura, e com gestos lentos colocá-la de volta no envelope. Havia um sorriso de quem finalmente concluí uma tarefa difícil em seus lábios, o que me fez sorrir também. Acho que estava tudo bem, afinal.
Ela veio até mim, me beijou a face – a esquerda, porque sabe que eu tenho mania de lado esquerdo – e se despediu. Suas últimas palavras, uma a uma, se enrodilharam à minha volta, prenderam-se às minhas pernas.
“Você sempre soube usar palavras bonitas.” Mas estava tudo acabado.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Solidão Imposta.

Não é um vazio,
mas um peso dentro do peito.
Esmaga o coração,
cria uma dor que eu não sei por que dói.
Eu apenas sei que dói.
A dor exige que eu me afaste do mundo,
que fique só, e é aí que ela incomoda ainda mais.
Sem forças, eu não resisto.
Resigno-me e obedeço.
Fico só.
Me sinto só.
É assim que a dor
quer que eu me sinta.
Enfraqueço mais.
Continuo só.
Só... Com a minha dor.
Em certo instante,
crio um pouquinho só de coragem,
o suficiente para erguer a mão
e procurar por companhia.
Mas a dor não me permite ser clara.
Não permite que eu grite
que eu não quero mais ficar sozinha.
E tudo o que sai de minha boca
é exatamente o oposto daquilo
que eu quero.
São nestas horas
que eu mais preciso que alguém
preste atenção em meus olhos.
Porque os meus olhos,
ah, estes nunca mentem.
O meu olhar,
a dor ainda não consegue controlar.
E tudo o que ele passa,
é exatamente aquilo que eu gostaria
tanto de poder gritar:
Que eu não quero, de verdade,
ficar sozinha. 

Uma Carta.


É difícil decidir o que tivemos. Alguns diriam que não tivemos nada, e talvez você até concorde, porque tudo o que tivemos foi INTANGÍVEL. Só que pra mim, INTANGÍVEL não é sinônimo de nada. Sentimentos são intangíveis e nem por isso eles significam coisa alguma. E sentimentos foi tudo o que tivemos.
Sentimentos rápidos e confusos, mas sentimentos. Não houve tempo, sequer houve espaço, para que eles fossem intensos, mas houve sentimento. E, no fim das contas, acho que isso é o que importa.
Também existiu vontade, é claro. Vontade de estar perto naquelas noites longas em que palavras, como agora, só podiam ser escritas. Nunca faladas. Nunca ouvidas. Apenas lidas.
Depois se criou uma certa vontade de poder impedir que colocassem fim a essas noites em claro, as quais passávamos mergulhadas em conversas onde nos compreendíamos e podíamos ser quem quiséssemos ser.
“Ser”, você lembra?
Nós “fomos”, juntas, por pouco tempo, mas fomos. Eu queria que tivéssemos tido mais tempo. Não deu.
Eu quis ser capaz de segurar sua mão quando você sentiu medo. Quando precisou enfrentar as pessoas que mais ama em sua vida para poder “ser” aquilo que você é de verdade. Quis cuidar de você. Não pude.
O que eu NÃO quis, nem por um segundo, é que meu coração te esquecesse. Por mais que eu diga que sim, não está em mim desistir. E esquecer significava desistir de você.
No entanto, nós, seres humanos, não mandamos no coração. Quem me dera eu tivesse esse dom. Mas não tenho.
Então, o amor que tão depressa veio, tão depressa se foi. Correu para longe de mim. Escapou antes que eu tivesse a chance de agarrá-lo e mantê-lo quieto aqui, dentro do peito.
Talvez fosse assim mesmo que as coisas devessem ser... Nos encontramos, fomos, passamos. Fomos especiais enquanto tivemos que ser. Passamos quando chegou a hora. Sem drama. Sem lágrimas. Fizemos o que havia para ser feito, naquele pouco tempo que tivemos.
No fim das contas, pode até não ter sido muito, mas foi o suficiente. E isso basta.

Nostalgia.

Saudades de quando eu não precisava dizer nada a ninguém,
de quando eu não precisava escolher palavras para cada momento.

Saudades de quando um olhar não significava tudo
e de quando um silêncio não machucava tanto.

Saudades daquele tempo de menos preocupações,
menos dependência, menos amor no peito,
em que um passo em falso não significava tanto assim.

Saudades de quando era tudo menos complicado, menos confuso
e eu não precisava tanto assim de uma palavra só da pessoa certa
para me sentir feliz outra vez.

Saudades, sim, mas me sentiria perdida
se voltasse atrás justo agora.

domingo, 15 de maio de 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ela e Eu



Ela me fez parar e olhar para ela, pela primeira vez desde que nos conhecíamos. Aqueles anos todos nós duas havíamos estados juntas, mas era muito pouco o que eu conseguia entender a respeito dela. Nunca fui capaz de descobrir o que ela sentia ao olhar a lua cheia, e nem de criar suposições sobre a tristeza que por vezes cobria seu olhar. Eu jamais pude explicar o que se passava em sua alma para que mudasse de humores tão depressa e tantas vezes. Havia dias que ela nem mesmo parecia a mesma pessoa. Ela possuía aquela inquietude infidável, incômoda e, como todo o resto, inexplicável para mim. Ela era eu. E eu não a conhecia.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Passado Simples.

Terminaram o namoro depois de dois anos. Em um mês já haviam cessado todo tipo de conversa, inclusive aqueles via Twitter, MSN e Orkut. Certo dia, porém, a janelinha do MSN do Rodrigo piscou: a Ana estava puxando conversa, tímida.


Rodrigo diz:
Oi. :)

Ana diz:
Você apagou os nossos depoimentos no Orkut, Rô...

Rodrigo diz:
É, eu sei. E faz tempo, viu.

Ana diz:
Por quê?

Rodrigo diz:
Porque deixou de ser verdade aquilo que estava escrito lá.

Ana diz:
Mas foi verdade quando nós escrevemos, Rô. ): Pelo menos EU fui sincera.

Rodrigo diz:
Cada palavra minha também foi sincera, Ana.

Ana diz:
Tá. Então por que você apagou?

Rodrigo diz:
Não fazia nenhum sentido deixar lá uma coisa que “foi” verdade.

Ana diz:
Como se eu nunca tivesse passado pela sua vida...

Rodrigo diz:
Eu sei que você passou pela minha vida.
E você sabe que eu passei pela sua.

Ana diz:
Eu só queria que você os tivesse deixado lá...

Rodrigo diz:
Muitos verbos no passado. (:

O Rodrigo encerrou a conversa. Pensou por um segundo no que Ana havia lhe dito. E depois deixou tudo isso pra lá. 

domingo, 8 de maio de 2011

Mãe - Edição Especial



Você nem falava ainda, não fazia graça, só babava. E ela estava lá com você. Nem se sabia ainda se você seria muito inteligente ou uma pessoa muito atraente, mas ela não se importava. E estava lá com você. Ela que quase chorou quando você deu seus primeiros passos, quando disse a primeira palavra, quando nasceu o seu primeiro dente.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Beijo que Eu Nunca Tive


Nossas mãos nunca se apertaram, mas eu sinto falta de seu toque. Eu não me lembro de escutar sua voz, mas sinto falta de ouvir você dizer que me ama. Nunca vi um sorriso seu, mas sinto falta de fazê-la sorrir. Ainda não vi o brilho do seu olhar, mas sinto falta de olhá-la nos olhos. Nossos lábios jamais se tocaram, mas sinto falta daquele beijo que nunca aconteceu. Eu sinto falta de cada parte sua que eu nunca conheci.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Distância Desconhecida


Meu coração não conhece distância, não sabe o que significa “a quilômetros longe de mim”. Ele apenas sente, incapaz de medir o caminho que me impede de estar tão perto que possa tocar quem eu amo. Quem foi que disse que é preciso estar perto, bem perto para se amar outra pessoa? Meu coração não conhece distância.

Intangível.

Se eu era alto, então ela era mais alta ainda, com aquelas pernas enormes e de cima de seus saltos. Não devia pesar quase nada, mas tinha as carnes - se me permitem essa pequena vulgaridade - nos lugares certos. Cabelos pretos; levemente ondulados e não lisos como a maioria. Os olhos - ah! os olhos - de um verde impressionante, mas não impressionável. Não aquele verde comum, mas um que sempre deixava dúvidas sobre a tonalidade exata. Tez muito branca e lisa. Lábios pequenos, cheios e naturalmente muito rubros. Dava a impressão de estar sempre um pouco entediada e meio distante demais. Parecia irreal e, por isso mesmo, intangível.

Ser Intransitivo

Queria mesmo era ter nascido ser INTRANSITIVO, para, seguindo as leis da gramática, ser completa sozinha e nunca necessitar de nenhum complemento.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Verônica

Olhar o céu, à noite, era algo que costumava me acalmar — mas não aquela noite. Eu olhava pela janela, mas meu coração continuava inquieto. Parada em meu quarto, as luzes apagadas, eu nunca senti tanto medo. Desejei ter alguém que pudesse segurar minha mão e que sussurrasse, bem pertinho de meu ouvido, que tudo ficaria bem. E foi desejar, que senti um toque delicado, uma mão que veio escorregando para dentro da minha, e um ofegar suave próximo ao meu rosto. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que a gente vê no jornal.

Todos os Silva já estavam na sala quando começava a passar o jornal na televisão. O pai coçava preguiçosamente a barrigona, resmungando que a janta estava demorando; e a mãe fazia qualquer coisa, sempre com um olho nas duas crianças que corriam em torno do sofá onde ela e o marido se sentavam. Ninguém ligava muito para o que o jornal estava noticiando, mas, vez ou outra, o pai ou a mãe fazia algum comentário breve sobre algum acontecido. Foi numa dessas que todos se calaram de uma vez só para escutar quando um dos jornalistas disse que um pai havia assassinado a própria filha.

O pai e a mãe se entreolharam, graves, as crianças pararam de correr e até a empregada, que estava na cozinha, veio à sala para poder ver a notícia. O pai apontou o controle para a televisão, aumentou o volume. Todos os Silva e a empregada quietos, atentos. Quando a notícia acabou, havia um clima de enorme comoção entre todos eles. Ninguém ousava dizer uma palavra e todos pareciam muito respeitosos — até as crianças.

— Então, Cida — perguntou o pai de repente, olhando para a empregada — o que vai ter para a janta?

E os Silva continuaram com o que estavam fazendo antes, enquanto esperavam que a empregada terminasse de lhes preparar a comida.

Tarde Demais - Parte Dois

No dia seguinte, às seis e meia, eu estava sentada outra vez no mesmo lugar do dia anterior, o café esperando para esfriar novamente. Desta vez ela não sacudiu nenhuma sombrinha lilás, não reclamou de nenhuma barra de calça molhada e nem falou com ninguém antes de vir se sentar a alguns bancos distante de mim. Eu a olhava. Ainda havia tristeza em seus olhos. Mas nenhum sorriso tímido nem cansado em seus lábios. Às sete e dez, ela levantou-se e se foi.

Passei então a aparecer todos os dias naquela lanchonete, sempre intrigada e sempre covarde demais para dizer sequer uma saudação qualquer que fosse. Simplesmente me sentava e esperava que ela entrasse com seus olhos carregados de tristeza e, vez ou outra, um sorriso tímido e cansado balançando nos lábios. Eu me sentava e esperava.  Ouvia partes das conversas breves que ela tinha com as garçonetes, que era quando eu descobria mais sobre ela.

domingo, 24 de abril de 2011

Pobre do Traste!

    Juliana precisou de, sei lá, uns doze anos. Antes daquele dia horroroso ela achava, ela confiava mesmo que seu casamento era perfeito e que seu marido — Daniel, aquele traste! — era um homem santo. Ela dizia, ai que clichê, que colocava a mão no fogo pelo Daniel. ‘Tantos anos assim com ele’, ela dizia, ‘coloco sim a mão no fogo’. Pois bem. Todo mundo sabe que fogo queima, e com Juliana não haveria de ser diferente.

sábado, 23 de abril de 2011

Tarde Demais - Parte Um

Ergui os olhos para o relógio. Seis e vinte e cinco e meu coração acelerou no peito. Faltava tão pouco. Bebi mais um pouco do café que me havia sido servido há pouco, e a garçonete sorriu, parando à minha frente novamente.

— Gostaria de comer alguma coisa agora, querida?

— Não, obrigada. — olhei novamente o relógio enquanto falava. Nem um minuto ainda havia se passado. Como sempre, eu começava a ficar impaciente, embora a ansiedade fosse bem mais forte. Naquele dia eu estava decidida, e só precisava que os ponteiros do relógio marcassem seis e meia para que eu pudesse levar a cabo a minha resolução. Infortunadamente, o Tempo parece zombar de nós nessas horas em que precisamos desesperadamente que ele ande mais depressa, e anda sempre mais devagar.

A Louca da Jojo

— WAKE UP! GRAB A BRUSH AND PUT A LITTLE MAKEUP — ela rodou no mesmo lugar, divertindo-se descomunalmente em ver as coisas entrando e saindo de seu campo de visão...entrando e saindo...Agora vê. Agora não vê. Rodou mais depressa.