segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que a gente vê no jornal.

Todos os Silva já estavam na sala quando começava a passar o jornal na televisão. O pai coçava preguiçosamente a barrigona, resmungando que a janta estava demorando; e a mãe fazia qualquer coisa, sempre com um olho nas duas crianças que corriam em torno do sofá onde ela e o marido se sentavam. Ninguém ligava muito para o que o jornal estava noticiando, mas, vez ou outra, o pai ou a mãe fazia algum comentário breve sobre algum acontecido. Foi numa dessas que todos se calaram de uma vez só para escutar quando um dos jornalistas disse que um pai havia assassinado a própria filha.

O pai e a mãe se entreolharam, graves, as crianças pararam de correr e até a empregada, que estava na cozinha, veio à sala para poder ver a notícia. O pai apontou o controle para a televisão, aumentou o volume. Todos os Silva e a empregada quietos, atentos. Quando a notícia acabou, havia um clima de enorme comoção entre todos eles. Ninguém ousava dizer uma palavra e todos pareciam muito respeitosos — até as crianças.

— Então, Cida — perguntou o pai de repente, olhando para a empregada — o que vai ter para a janta?

E os Silva continuaram com o que estavam fazendo antes, enquanto esperavam que a empregada terminasse de lhes preparar a comida.

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