sábado, 23 de abril de 2011

A Louca da Jojo

— WAKE UP! GRAB A BRUSH AND PUT A LITTLE MAKEUP — ela rodou no mesmo lugar, divertindo-se descomunalmente em ver as coisas entrando e saindo de seu campo de visão...entrando e saindo...Agora vê. Agora não vê. Rodou mais depressa.

QUINZE MINUTOS ANTES

A porta da frente da casa dos Watson se abriu e Joanna precipitou-se para dentro, atravessando a sala quase correndo e agarrada à mochila. Mal olhou para os lados ao passar e foi direto para o quarto, no segundo andar. Bateu a porta, mas não a trancou; e, desfazendo-se da mochila, foi fechar as cortinas da janela.

Com pressa, quase nervosa, espalhou o conteúdo da mochila sobre a cama. Havia uma placa metálica, alguns cadernos rabiscados, o maço de cigarros, um pequeno estojo de maquiagem, chicletes e... Ela agarrou um pacote minúsculo, com alguma coisa branca dentro. Foi até a penteadeira, sentou-se, mas percebeu que estava faltando alguma coisa. Olhou para os lados, e viu o que estava procurando: a placa metálica que fazia parte das tranqueiras antes guardadas na mochila. Apanhou-a sobre a cama e voltou até a penteadeira.

Sentou-se, abriu o pacote com a coisa branca, derramou-a sobre a plaquinha fina de metal e parou outra vez. Ainda estava faltando algo. Exasperada, abriu as gavetas da penteadeira e revirou o conteúdo delas até encontrar o que precisava. Um lâmina, que ela tirara do aparelho de barbear de alguém. Agora sim. Ela já se sentia animada quando começou a mexer com a lâmina o pó branco sobre a placa de metal. Cortou-o, mexeu-o, revirou-o e juntou-o em carreiras.

Largou a lâmina.

Agora ela mal podia se conter. Arrastou a cadeira para trás, curvou-se para a frente, a cabeça sobre o pó branco, pressionou o dedo médio contra uma das narinas e aspirou o pó, pouco a pouco, de uma das fileiras. Jogou a cabeça para trás e fechou os olhos numa sensação de puro gozo. Precisava de mais. Aspirou a segunda carreira, voltou a jogar a cabeça para trás, os olhos fechados, a alegria começando a crescer inexplicavelmente...

AGORA

Ela tirou tudo: casaco, camisa, calça. Tirou os coturnos também, mas depois voltou a colocá-los, porque assim era mais divertido subir na cama. A música enchia o quarto; um riff de guitarra que a enlouquecia a ponto de fazer parecer que estava possuída. Ela sentia-se tão contente, tão fora de si. Começou a pular, pular, pular. Os cabelos, soltos, tampando-lhe a cara cheia de suor. Ela não ligava.

O vocalista começou a berrar, a música parecendo mais alta ainda agora, e Joanna, achando-se capaz de competir com a voz potente do homem — ela sentia que podia fazer tudo o que quisesse —, começou a gritar também, assemelhando-se a uma cigarra prestes a explodir.

Repentinamente, a porta do quarto escancarou-se e alguém entrou, enfurecido. Joanna parou para contemplar sua irmã gêmea. Ficou intrigada. Como era possível que ela estivesse ali em cima da cama, de calcinha e sutiã, e ao mesmo tempo também estivesse lá no chão, vestindo um moletom horroroso cheio de bichinhos? Joanna tinha virado duas. Ela podia fazer tudo agora, podia fazer isso, ser duas. Achou graça e se deitou.

Mas então a música cessou e sobraram apenas os gritos da irmã gêmea. Nisso Joanna não achou tanta graça. Ela levantou a cabeça para reclamar, mas então a irmã já lhe agarrava e puxava, tentando fazê-la sair da cama.

— Você precisa de um banho! — disse ela, categórica.

Joanna não concordava de jeito nenhum, então rolou para o outro lado, desvencilhando-se da irmã gêmea, e correu para a janela, no peitoril da qual ela se empoleirou. E em sua falta de lucidez induzida, acreditou que tivesse asas.

E saltou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário